Longa de Charlie McDowell problematiza o dilema filosófico da metafísica transcendente do existir ao explorar as consequências de uma descoberta científica que atesta sua “veracidade”.
A subjetividade do platonismo cristão está enraizada no pensamento metafísico do indivíduo que é influenciado por tal premissa. Por essa crença, corpo e alma segregam tipos distintos de existências, sendo uma delas reservada a transcendência do além vida em um mundo supostamente ideal e superior. Deduzindo o axioma religioso e comprovando cientificamente que há uma transmutação existencial que alterna o fim de uma vida para sucessão de outra, você negaria sua existência por uma suposta “passagem” que destina sua consciência a uma outra realidade? Esse é o debate que o filme The Discovery levanta sob um emaranhado implicitamente filosófico que abarca de Platão a Nietzsche em seu enredo presumivelmente melancólico.
O longa problematiza os desdobramentos da descoberta científica que atesta a existência da consciência para o além da morte e a onda de suicídios subsequentemente “naturais” a impactante notícia. Nesta visão de mundo, a evasão existencial ainda é tratada como tabu por não se chegar à conclusão definitiva sobre o que seria o pós morte, motivando o Doutor Thomas (cientista responsável pela tese) a criar uma máquina que prove fisicamente tal afirmação como forma de amenizar sua culpa em meio ao caos que o próprio originou. Dentre novas descobertas e mais perguntas, seu filho Will acaba integrando o experimento junto de Isla (uma suicida em recuperação), e dessa relação improvável se estabelece uma conexão estranhamente afetiva.
O tom narrativo do longa nos conduz de forma primária a ideia de negação a vida, nos direcionando um tipo de niilismo crítico do situacionismo existencial pessimista do SER, fazendo do existir um fardo determinístico que denota o processo de aprendizado da expiação pecaminosa ancorada ao “destino” dogmático cristão. A conclusão resvala nos questionamentos evidentes sobre o sentido do viver, nos elucidando uma descrição platonicamente idealista (mundo sensorial que anseia transcendência da forma), para posteriormente subverter-se antagonicamente no “final twist” Nietzschiano que desnuda a narrativa de forma cíclica, auto semelhante e infinita através da percepção do EU autoconsciente no espaço/tempo. E você, acredita em vida pós vida?
