Romance Iain Reid reforça uma das máximas da literatura sobre o narrador em 1ª pessoa ao mesmo tempo que evoca questões filosóficas acerca da liquidez de Bauman nas relações humanas.
A percepção das verdades ligadas a constituição do EU derivam de insights reflexivos de pensamentos que podem ser classificados como sendo a evidência real de 1 pseudo existência. A problemática do conceito reside na certeza de que não conseguimos saber os pensamentos do OUTRO, de forma que, em teoria, o real (ou a verdade existencial) é algo exclusivamente particular. Talvez a ansiedade exemplifique a dinâmica dessa problemática, pois o indivíduo nessa condição, de forma compulsória, líquida e descartável, cria metanarrativas de suas hipotéticas histórias futuras que normalmente envolvem cenários do OUTRO por seus próprios pensamentos. O romance de Iain Reid martela regularmente a narrativa com a sentença de seu próprio título, uma ansiedade latente, enfática nos motivos que definem tais pensamentos, assim como Bauman definiria sua filosofia, sobretudo acerca do amor nas relações humanas.
Tudo gira em torno de um grande diálogo (ou monólogo a 2 sobre existência) de um casal em meio a uma viagem de carro ante ao tradicional 1º meeting familiar com os pais do parceiro (a). A troca de ideias entre ambos é densamente carregada de questões filosóficas e preparam o terreno para os bizarros eventos que eclodirão homeopaticamente junto ao leitor. A subtrama paralela de uma “3ª figura” alterna os capítulos com o casal principal e tece uma curva narrativa que se chocará violentamente ao fim da obra. De maneira simbólica, o romance demonstra a perigosa mensagem do escapismo da verdade relativa perante as intenções do indivíduo pensante, por conseguinte, envolve autoconhecimento e a metáfora líquida de uma bebida excessivamente doce, gelada e finalmente (e novamente) descartável no frio, assim como qualquer pensamento autodepreciativo em um inverno melancólico.
A modernidade líquida de Bauman expõe a fluidez volátil dessa grande mudança de perspectiva da humanidade, cada vez mais nos distanciamos do modelo orgânico e sólido de sociedade, sendo o indivíduo fruto de sua particular “ilusão” de verdade, agindo conforme suas escolhas que são indiferentes a 1 suposta realidade colaborativa. Como ensaio argumentativo sobre liquidez e individualidade, leitura altamente recomendada.
