Compilação histórica de Sherlock Time resgata genialidade da lendária dupla de quadrinistas no vanguardismo sci-fi latino americano.
A física nos permite afirmar que o ato de observar interfere diretamente naquilo que é observado. A dicotomia da afirmativa se estabelece como sendo uma possibilidade existente do momento da própria observação em si, e aqui, o Gato de Schrödinger se faz presente na teorização de realidades. Gosto de pensar neste conceito e sobre o quanto modificamos o real apenas tendo ciência dele, e a questão aqui seria saber se você é um observador ou um observado nesse paradoxo. A figura ”Frankstóide” concebida pelas cabeças criativas de Oesterheld e Breccia, é meio que essa espécie de entidade observadora-mor, que interfere e interage nas possibilidades que se ocultam nas sombras da (s) realidade (s), o enigmático Sherlock Time.
A HQ data o 1º encontro da lendária dupla de quadrinistas argentinos e se estabeleceu como um marco vanguardista do sci-fi na narrativa sequencial latino-americana. Sherlock Time é uma personagem não definida no sentido ao qual estamos acostumados, sua origem tão quanto seus objetivos são desconhecidos e podem até não serem relevantes dado ao fato de o entendermos como um observador/detetive do inconcebível em um mundo ortodoxamente limitado a nossa própria ignorância dimensional. A narrativa se desenvolve de forma procedural e em curtos casos separados por capítulos. Acompanharemos as incursões de Sherlock Time junto do “recém amigo” e parceiro humano, o existencialista Luna. A temática Lovecraftiana dá o tom em passagens bizarras e já demonstravam a genialidade inventiva de Oesterheld ao criar tensão junto ao desconhecido e a maestria de Breccia ao dar vida a um mundo weird de luz e sombras. Destaque para os casos de “O Ídolo” que retrata os perigos do colecionismo impulsivo, “O Bonde” que nos conduz a uma quase viagem mórbida ao melhor estilo “7 Além” e, o capítulo intitulado apenas de “O Conto” (meu favorito), que brinca com o egocentrismo das deidades na gestão de suas “mini fazenda de formigas” como bem diria Constantine.
Perante o absurdismo, observar torna-se um ato defensivamente existencialista, de modo que cabe a nós mesmos definirmos nossos papéis de observadores ou observados em um mundo cada vez mais bizarro. Talvez o Sherlock Time desta realidade seja a nossa observação na resolução das anomalias de nosso próprio espaço tempo.

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