Prof. Fall | Uma viagem alucinatória ciente de sua crítica social

Texto pessimista e parcialmente documental de Prof. Fall sublinha a violência devastadora do pós colonialismo angolano.

A observação arquitetônica como prenúncio trágico do pessimismo moral de um pacato indivíduo francês que, inconscientemente ou não, herda uma certa culpabilidade do ponto de vista eurocêntrico na violenta configuração geopolítica do continente africano, é, de fato, um ensaio argumentativo poderoso assinado por Ivan Brun e Tristan Perreton. Neste impensável enredo, costura-se um recorte expositivo da maldade humana disseminada pelo colonialismo europeu na África.

Prof. Fall é um texto pessimista. O discurso de Michel Morel, nosso protagonista, é uma bile corrosiva acerca de suas reflexões críticas. O tom de sua lucidez expressa sua revolta com o comodismo e a alienação adaptativa da sociedade em sentenças bem impactantes e não menos verdadeiras junto ao leitor. Cansado do mundo que o cerca, sua obsessão mórbida de uma queda premonitória fica latente em meio a suas observações cotidianas de um edifício. A depressão inevitável converge para uma interessante subtrama advinda de uma crença popular (o mau-olhado) e a bad trip da explosiva combinação de Lexotan e álcool.

As alucinações de Michel na vida de um ex-mercenário que atuou nas guerras civis africanas, se iniciam após eventos do pré suicídio de Dominguez (a queda em questão). Depois de uma rápida troca de olhares e uma nojenta cusparada, Michel cria uma conexão sobreposta de vida. As memórias de Dominguez passam a povoar a mente já conturbada de Michel, e neste cenário de regressão psicanalítica, iremos desvendar a origem de uma caixa com armas e alguns diamantes. O espelho de caráter que Dominguez reflete em Michel fica evidente na essência corruptível e gananciosa da humanidade, onde a ficcional riqueza de uma “pedra” exerce iminências consequentes e trágicas a sua própria obtenção ilícita. A queda é indissociável de culpa, de fuga e de descrença com o rumo da humanidade.

A crítica social de Tristan é bem lúcida em meio proposta das alucinações da HQ. O situacionismo angolano como subproduto de interesses hegemônicos de terceiros que culminaram em guerras civis no loteamento africano, documenta a violenta história de um povo, vítima de suas próprias riquezas e cúmplice de seus maiores crimes.

” … como se impressionar com canibais se comemos nosso próprio Deus?”

Avaliação: 4.5 de 5.

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