Tensão política, estruturação social, preconceito, reflexão filosófica e amor são alguns dos temas que o mangá antropomórfico de Paru Itagaki discute magistralmente.
Vivemos intrinsecamente sob conflitos e dilemas. O já conhecido “cada escolha é uma renúncia” sintetiza as ramificações das decisões que determinaram sua existência enquanto indivíduo. Paralelamente a escolha, ”assassinamos” as versões alternativas do que poderíamos ser sem antes de um breve vislumbre do que poderíamos nos tornar. Decisões são extremamente difíceis de serem tomadas pois envolvem histórico existencial coerente com sua visão de mundo que sim, se chocarão com pensamentos contrários de individualidades que percorrem a mesma jornada construtiva do EU. Em contrapartida, os paradigmas de microgrupos sociais tendem a cooptar ressonâncias estéticas para estruturação de bandeiras e com elas o conceito de tribos personifica supostamente seu lugar na sociedade, ao menos que você fuja dos estereótipos que automaticamente lhe são atribuídos, como Legoshi, o lobo protagonista de Beastars.
Beastars é uma mangá acima de tudo humano, sua abordagem crítica a estereotipação social nos faz refletir sob a camada mais íntima do pensamento filosófico e para além dos julgamentos que se prevalecem das superficialidades estéticas do indivíduo. A trama gira entorno de uma sociedade animal antropomorfizada e binariamente dividida entre carnívoros e herbívoros que coexistem de forma “civilizada”, porém tensa pela obviedade de que uma espécie é a ameaça da outra. Legoshi, o lobo e figura central do mangá, é uma personagem complexa, acompanhamos seu drama adolescente sob a repressão de seus instintos animalescos para com o funcionamento dessa sociedade até certo ponto utópica. Em sua jornada de autoconhecimento, a descoberta do amor por uma herbívora reafirmará sua conduta empática e desencaixada do estereótipo de agressividade de sua espécie. O julgamento decorrente de seu comportamento cientemente contido é o fio condutor do mangá que brinca com a tentação animalesca das emoções humanas do jovem lobo em plena adolescência colegial da Escola Cherryton.
A obra se destaca por discutir abertamente temas humanos e até tabus sociais do universo de Beastars que podem facilmente ser traduzidos a nossa realidade. A afirmação do EU desprendido de amarras ideológicas pré-concebidas ressalta a importância de nosso posicionamento em um mundo cada vez mais polarizado e toxicamente influente sobre nosso comportamento. Como Legoshi e de maneira generalizada, devemos transcender nossa animalidade para que a humanidade enquanto espécie se perpetue em nossas decisões sob a demanda do amor.

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