Obra premiada de Becky Cloonan explora a dor do amor e sua aura trágica.
O conceito do amor romântico remonta a urgência da completude existencial. Ansiamos por nossa contraparte destinada pelo acaso para que o sentido da vida se prevaleça de uma das suas mais recorrentes premissas, amar. A noção atual desse tipo de amor é enraizada pela inclemência que o destino impõe a sua manutenção. Obras como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda exemplificam o quão trágico pode ser amar alguém e se perpetuam sob suas próprias histórias para então se tornarem lendas. Por Deus ou pelo Acaso se apropria desta caracterização cultural do amor romântico e se desdobra sobre as iminências trágicas de seu fim.
A obra compila 3 contos que abordam as maldições do amor romântico na medievalidade e acrescenta uma aura de fantasia para tecer o destino atroz de suas personagens. É inegável o talento e sensibilidade de Beck Cloonan como contadora de histórias, sobretudo no sentido gráfico de seu trabalho nesta HQ. A imersão na narrativa é potencializada pela colorização de Lee Loughridge que acrescenta uma espécie de filtro onírico aos quadros minuciosamente detalhados da autora.
A temática medieval é o cenário ideal para que Becky brinque de Deus e Acaso ao impor as consequências desse universo a um suposto amor que perpassa o limite do possível, seja pelas convenções sociais da época, seja pelo apelo herege e incauto do desejo de felizes para sempre.
O Conto que abre a HQ (Os lobos) é carregado do sentimento de culpa e aceitação do destino, nele acompanharemos o dilema de um misterioso caçador que é caçado por suas próprias memórias. Já o tom sobrenatural de O Pântano nos apresentará a jornada de um escudeiro e sua missão solitária que ressignificará sua própria história em meio a fantasmas do passado. Concluindo a trilogia, o meu favorito, o sombrio e obscuro Deméter que apresentará os perigos contidos no desejo de se barganhar com o inevitável.
Com grande influência pelo tom gótico e sobrenatural do medievalismo, Por Deus ou pelo Acaso magistralmente nos impacta por suas conclusões trágicas que definem o amor romântico. Sua narrativa cativa o leitor a adentrar por entre os mitos e lendas desse universo cruel. A sensação de querer continuar explorando o mundo criado por Becky é acentuada ao fim da rápida leitura. Os extras de esboços e ilustrações garantem um pouco mais de informações estéticas de como esse mundo funciona. A guarda da HQ também opera como complemento e índice pontuando os acontecimentos narrativos dos contos, quase um tarot desse universo.
Ao fim, nos resta torcer para que Becky revisite e exerça novamente sua deidade causal nesse mundo com novas histórias trágicas que representam a sobrevivência do amor em meio as punições severas do destino.

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