Filme expõe o pior de suas próprias personagens para debater sobre quão frágil pode ser a moral do ser humano.
O conjunto de regras sociais adquiridas em milênios de convívio entre humanos estabeleceram o que chamamos de moral da humanidade. Assegurada como algema do instinto animalesco e egoísta de nossa própria individualidade, a sociedade só se perpetua através destas amarras conceituais que reprimem o mínimo desvio de conduta como forma de garantirmos essa coexistência coletiva. O ensaio que o filme O Bar propõe, conflita diretamente com o abstrato dessas relações evocando esse instinto animalesco de sobrevivência e explorando o indivíduo sem estas amarras sociais.
O longa espanhol acompanha a reunião e enclausuramento de um grupo de pessoas em um bar de Madri sob ordem do acaso. Neste cenário, todas terão de encarar o absurdo decorrente de um assassinato as portas do estabelecimento, já que aparentemente um provável atirador elimina qualquer indivíduo que se arrisca sair.
Com a premissa da ilusão de sociedade em meio ao caos, o diretor Álex de la Iglesia nos entrega uma espécie de trama nonsense, onde as decisões extremas deste grupo de pessoas se explicam como sendo originárias do senso primitivo e iminente de sobrevivência. A caracterização estereotipada das personagens (aqui temos um mendigo, uma modelo, um hipster e por aí vai) tenta expor uma camada crítica de preconceito e julgamento invisível que destilamos uns aos outros diariamente, sendo esta, a dinâmica que faz o filme fluir. A desconfiança mútua gera dúvidas da realidade que os cercam, mas juntos terão de descobrir o sentido da situação que se encontram, e partir de então, uma espécie de battle royale se configurará como única alternativa de escape deste pesadelo.
O filme visita diversos gêneros que vão de comédia ácida, a um survival horror, mas destaca-se principalmente por ser um mergulho nas profundezas fétidas e asquerosas da singularidade humana sem o filtro que purifique suas decisões puramente egoístas. Seu final até certo ponto anticlimático, tenta despir as fachadas superficiais que representam a nós mesmos enquanto pessoas em uma sociedade que não se conhece, que se julga o tempo todo pelas aparências, bastando apenas emergir de nosso próprio esgoto inquisidor para nos enxergarmos como semelhantes aos que julgamos.
